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Entrevista Mazinho Souza
Entrevista Mazinho Souza

rítica Social e Política

O tempero irônico de Mazinho Souza

Escritor revela novos projetos e fala da construção do conhecimento via arte pública e inclusiva

Entrevistas  –  18/03/2020 21:29

A sociedade sempre se adoece, é a arte que examina e denuncia, também ela que remedia” 

Mazinho Souza nasceu em Aparecida de Goiânia (GO), em 1992. Poeta, acadêmico de filosofia (UFG). Colabora em diversos jornais e antologias. Membro fundador do selo literário Goiânia Clandestina (2014), idealizando festivais literários e editando publicações, como “Antologia Clandestina” (2017). Promove oficinas de escrita, leitura e pensamento filosófico com jovens e crianças na periferia, colaborando especialmente no ponto de cultura Cidade Livre, onde implementa pesquisa com os habitantes da localidade. 

O jovem poeta recentemente lançou o seu primeiro livro individual, “Cobra Criada”, pela Martelo Casa Editorial. Evento ocorrido em 8 de dezembro de 2019, na Rua do Lazer, setor Central em Goiânia. Fazendo bom uso do tempero irônico, Mazinho Souza realiza intensa e embasada crítica social e política. Inquietações existenciais fervilham em sua escrita poética. A obra emite sinais de suas vivências como estudante universitário, educador e pesquisador da obra de Nietzsche.

Confira a entrevista com Mazinho Souza

Qual o conjunto de hábitos você acredita que sejam estimuladores do processo criativo?

Não acredito em receitas criativas, mas existem técnicas em quaisquer meios de atividade artística. Quem se inclina à arte poética, por exemplo, de uma coisa não se pode fugir: a leitura. É se debruçando sobre os livros, dos clássicos aos contemporâneos e ainda mais, que se percebe o que foge da vontade criadora: o estilo, o motivo, o afeto, a maneira de se fazer isso ou aquilo e de transformar em arte. O restante cabe na maneira individual de cada pessoa enxergar o mundo e perceber seus movimentos, para isso não existe universalização.

. De onde veio a motivação para escrever o “Cobra Criada”’? Qual a essência da obra?

Digamos que a motivação veio do seu contrário, a desmotivação. Não pela poesia, mas pela maneira de se viver no automático, de percorrer trajetos já elaborados, caminhos com direcionamento. Cobra criada, para mim, é a vontade de desorientar os trajetos, ainda que não forneça novos, mas se for preciso percorrê-los que seja rastejando, pois assim é possível enxergar os calos.

. Quais os projetos literários você tem em curso, no momento?

Tenho o selo do Goiânia Clandestina que estamos trabalhando para firmar uma pequena editora, visando ampliar artistas goianos, é certo que caminhamos devagar, pois é algo de pequeno porte, que ocupa momentos livres, quando sobra tempo etc.

. Poucos autores conseguem viver exclusivamente da escrita, no Brasil. Qual o leque de ocupações possíveis para um escritor?

https://www.olhovivoca.com.br/entrevistas/8758/o-tempero-ironico-de-mazinho-souza/#:~:text=Entre%20a%20afirma%C3%A7%C3%A3o,lado%20a%20ess%C3%AAncia

A Lei de Incentivo à Cultura, muitas das vezes, desincentiva. Não alcança e nem deseja alcançar a necessidade e a demanda, tanto dos artistas envolvidos quanto dos locais onde a arte deveria chegar". 

Ler é convite à liberdade, ao aparelhamento crítico e inventivo. Qual o papel da literatura na desconstrução e reconstrução política e social na atualidade?

É clínico. A literatura faz cirurgias. A sociedade sempre se adoece, é a arte que examina e denuncia, também ela que remedia. Mas sabemos que não existe cura, pois uma sociedade curada implica a atividade artística em extinção.

. A Lei de Incentivo à Cultura, em Goiânia, atende a demanda da Economia Criativa? Você aponta quais oportunidades de melhoria?

Não aponto nada, pelo contrário, eu desaponto. A lei de incentivo, muitas das vezes, desincentiva. Não alcança e nem deseja alcançar a necessidade e a demanda, tanto dos artistas envolvidos quanto dos locais onde a arte deveria chegar. 

. Como a Secretaria Estadual de Cultura pode incentivar os municípios a desenvolverem práticas artísticas sustentáveis em suas localidades?

É uma questão um tanto simples para o abstrato, mas enorme e complexa para a realidade, e se fosse para dar os caminhos a serem percorridos, precisaríamos, antes de tudo, construir essas estradas, reeducar a caminhada. Assim, penso, é mais fácil a independência da própria população em efetuar e efetivar as práticas artísticas. E já acontece, hoje sabemos existem mais pontos de cultura que leis à cultura, mais artistas que fazem por vontade que por algum vínculo institucional ou governamental. E só desejamos que isso cresça.

. Em 2019 o mercado editorial brasileiro passou por crises das redes de livraria Saraiva e Cultura. Até que ponto a Amazon e a política cultural federal influenciaram neste panorama?

Vivemos em um atual momento de transição, é visível que algumas coisas não se sustentam enquanto outras decolam. O fascismo e o digital são armas capitalistas, isso influencia tanto o pensamento popular quanto o mercado. Vemos grandes livrarias fechando as portas, mas também percebemos pequenas abrindo, como também o digital como um meio de acessar e vender para grande público. O capitalismo também se renova.